quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O médico do inferno




O médico do inferno

Poesia (versos brancos)


Quando morrer, eu não quero ir para o céu.
Lá, deve ser muito chato. Anjinhos e mais
anjinhos, tocando harpas e louvando a Deus.
Eternamente, sem mais nada para fazer.
Quero ir para o inferno. Lá, terei movimento.
Vou trabalhar. Assim que chegar, eu vou
montar uma clínica de queimados. Vou passar
pomadas e fazer curativos em todas as
queimaduras. Vou trabalhar para amenizar as
dores e aliviar o sofrimento. O diabo não vai
gostar, é claro. Ele vai me dar uma surra,
todos os dias. Eu não vou estranhar, nem
me importar muito. Já estou acostumado a
apanhar dele. Vejo-o, sempre, por trás das
doenças incuráveis, da fome, da pobreza
e das injustiças. Vou continuar, sempre,
ajudando as almas que estão sofrendo.
E, assim, eu quero ser médico, eternamente.

Antonio Jofre de Vasconcelos, médico.
30/12/09

sábado, 19 de dezembro de 2009

Mitológica trindade da Unicamp

Por Antonio Jofre de Vasconcelos (IV)
Jornalista de "O Patológico" em 1967/68




Fui aluno da quarta turma da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas ("Unicamp") desde 1966 até 1971. Convivemos com os tres maiores heróis da Unicamp. Hoje, falecidos, estes nossos heróis pode ser considerados verdadeiros mitos. O terceiro maior herói mito da Unicamp foi o prof. Zeferino Vaz, médico parasitologista, o melhor reitor da universidade, que, em 1965, recebeu uma pequena faculdade, agigantou-a e a transformou na imensa Unicamp de hoje. A nossa cidade universitária foi batizada de "Zeferino Vaz", numa justa homenagem. Seu nome ficou imortalizado. Porém, os dois outros lendários heróis estão sendo esquecidos.

O segundo maior herói mito da Unicamp, o professor de histologia Walter August Hadler, médico dermatologista, foi o primeiro membro (professor contratado) da universidade, em 1963. A Faculdade de Medicina era muito pobre e ele precisou improvisar estufas para o seu laboratório, com caixotes de sabão. À noite, os professores de histologia roubavam gatos, para fazer lâminas de microscópio, para os alunos estudarem. Além de grande professor, ele era um pai para os alunos. Ele foi fiador dos contratos de aluguel de todas as repúblicas de estudantes, da faculdade, desde 1963 até 1968, totalizando uma centena de imóveis. Seria um ato de justiça batizar o Instituto de Biologia atual, de "Walter August Hadler".

O maior herói mito da Unicamp foi o prof. Antonio Augusto de Almeida. Ele era um antigo e famoso médico oftalmologista e cirurgião ocular do Instituto Penido Burnier, de Campinas e foi um dos membros mais atuantes da comissão cívica, organizada na cidade, que conseguiu a criação da Faculdade de Medicina, em 1963. Posteriormente, ele foi nomeado o primeiro Diretor da Faculdade. Muito honesto, correto, sincero e modesto, ele não era um político flexível, comunicador e propagandista ("marketeiro"), como o Zeferino. Seu nome acabou sendo ofuscado pela grande obra realizada, posteriormente, pelo Zeferino. Tanto que, hoje, há quem diga que o Zeferino foi o fundador da Unicamp. Não foi. O fundador foi o Almeida, que saiu de Campinas e viajou até a cidade de Ribeirão Preto, em 1963, para buscar o Hadler. E, em 1965, o Almeida e o Hadler viajaram até a cidade de São Paulo, para trazer o Zeferino, para ser o nosso terceiro Reitor. Se não fosse o Almeida, o Hadler e o Zeferino nem teriam vindo para a Unicamp. Por isso, seria um ato de justiça para a História, batizar o prédio principal da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, de hoje, de "Antonio Augusto de Almeida".




Este artigo foi publicado na internet, pelo site de comemoração dos 40 anos da Faculdade de Medicina da Unicamp, em 2003, como "Depoimento" dos alunos.
Foi também publicado pelo jornal "O Patológico", do alunos da Faculdade de Medicina da Unicamp, em janeiro de 2004, na página 12.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A vindoura epidemia de febre maculosa

Antonio Jofre de VASCONCELOS

Há alguns anos, a febre maculosa, infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii era uma doença de regiões silvestres e rurais. Não existia na área urbana. Porém, em 2003, dentro da cidade de Campinas, na Lagoa do Taquaral, surgiu um foco desta doença, causado pelas capivaras (Hydrochoerus hydrochoeris) e carrapatos estrela (Amblyomma cajennense). Foi o primeiro foco que surgiu dentro de Campinas. Eu, sendo médico e tendo residência e consultório no Bairro do Taquaral, comecei a estudar muito o problema. As capivaras foram retiradas do local e o foco desapareceu. Tinha surgido um novo tipo epidemiológico, a febre maculosa urbana, cujo estudo levou a quatro conclusões inéditas.

O carrapato é o hospedeiro, reservatório natural e transmissor da riquétsia. Ele tem tres estágios de vida: (l) larva, (2) ninfa e (3) adulto. Cada um se alimenta em um hospedeiro diferente e , depois, desce ao solo, onde troca de pele e se transforma no próximo estágio. A larva e a ninfa não se reproduzem. Só o estágio adulto se reproduz. Ao se reproduzir, o carrapato se multiplica aos milhares, porque cada fêmea grávida produz 5 mil filhotes. O carrapato pode se hospedar em milhares de espécies de mamíferos e aves. Porém existem dois tipos de hospedeiros: os primários (definitivos) e os secundários (intermediários). A larva e a ninfa podem se alojar em qualquer hospedeiro, mas o estágio adulto só parasita os primários.

Primeira conclusão: o carrapato só se reproduz sobre os hospedeiros primários (criadouros). Por isso, se estes forem retirados de algum lugar, os carrapatos desaparecem sózinhos, depois de algum tempo. Os primários são apenas tres espécies: antas, cavalos e capivaras. Todos os outros ão secundários. Na região de Campinas, não existem antas. (Tapirus terrestris). Na área urbana, os cavalos são raros e recebem alguns cuidados e tratamentos contra parasitas, tendo poucos carrapatos. Segunda conclusão: dentro da cidade a capivara é a única responsável pela reprodução dos carrapatos. Portanto, ela é a causa da febre maculosa urbana. Isto nos levou a propor o nome de "doença das capivaras" para esta patologia, na revista científica da Associação Paulista de Medicina, de julho de 2006. Algumas cidades querem retirar as capivaras para evitar a febre maculosa, mas o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) não permite, alegando que isso não vai resolver o problema, porque o carrapato tem outros hospedeiros. O Ibama está errado: ainda não sabe que, dentro da cidade, a capivara é o único criadouro de carrapatos.

Existem pessoas que dizem que a febre maculosa é facilmente curável. Isto seria correto, se o paciente chegasse ao hospital contando que frequentou uma área com esta doença e que foi mordido por carrapatos. O diagnóstico seria rápido e a doença seria curada por antibióticos: cloranfenicol, tetraciclinas e doxiciclina. Porém, isto quase nunca acontece. Geralmente o paciente se queixa só de sintomas inespecíficos: febre, mal estar e dor de cabeça. O médico fica com as hipóteses diagnósticas de gripe, amigdalite, pneumonia, leptospirose, dengue e febre maculosa. Só cinco dias depois, surgem as máculas (manchas vermelhas) no tornozelos e no punho. Aí se faz o diagnóstico de febre maculosa e se inicia a antibioticoterapia, mas já é tarde: a doença está avançada, o paciente já está muito grave. Por isso, morrem 70% dos doentes.

Hoje, o número de capivaras está aumentando nas cidades. Alguns pensam que é por causa do corte de árvores da mata ciliar, mas não é. Geralmente os animais fogem do desmatamento, mas a capivara é uma exceção. No local em que se cortam as árvores, desaparecem as sombras e os raios solares atingem diretamente o solo. Isto faz crescer mais o capim, que é o alimento preferido das capivaras. Aliás, a palavra capivara, em tupi-guarani, significa "comedor de capim". Por issto, a capivara gosta mais de lugares sem árvores. A verdadeira causa é a seguinte: há alguns anos a capivara era muito caçada pelo homem. Muitas pessoas apreciavam sua carne, semelhante à de porco. Aliás, o nome científico da capivara, hydrochoerus, em grego, significa porco d' água. Em 1988, a nova Constituição Federal do Brasil proibiu a caça de capivaras. Depois disso, o número delas começou a aumentar em toda parte.

Este animal é um roedor, como o coelho, e se reproduz muito. Uma fêmea pode ter até 8 filhotes, em um ano. Sua população está crescendo em progressão geométrica e pode se multiplicar por 5, a cada ano. Como se sabe, o número de carrapatos de um local varia, exponencialmente, em relação aos número de capivaras. Se elas se multiplicam por 5, os carrapatos se multiplicarão por 25. Nesta situação, as riquétsias, que já estão presentes em 24 cidades da região, aumentarão muito. Terceira conclusão: matemáticamente podemos prever uma epidemia de febre maculosa urbana em Campinas, e em outras cidades da região, mais cedo ou mais tarde. Quarta conclusão: para evitar esta vindoura epidemia é preciso retirar as capivaras de dentro das cidades.

Antonio Jofre de Vasconcelos é médico

(Artigo publicado na página A 3 do jornal "Correio Popular" de Campinas no dia 25/09/07.)

Saiba mais, procurando "doença das capivaras" e "febre maculosa urbana" na internet.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Antonio Jofre de Vasconcelos

Mais referências e redações de "Antonio Jofre de Vasconcelos" no blog http://antoniojofredevasconcelos.blogspot.com

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Universidade defende matança de capivaras: doença das capivaras

Procurar em "epidemia de febre maculosa".
Noticia publicada em 10/11/05 por www.corderovirtual.com.br
Saiba mais em "doença das capivaras".

Universidade defende matança da capivaras

Procurar em "epidemia de febre maculosa".
Notícia publicada em 10/11/05 por www.corderovirtual.com.br
Saiba mais em "doença das capivaras".

INSS

Antonio Jofre de Vasconcelos

Médico-Campinas

O ato de um doente que tentou incendiar a Agência do INSS, em Cosmópolis, porque seu benefício não foi aprovado pelo médico perito, não foi correto. Mas serviu para levantar um problema que é muito real e grave demais. È verdade que os peritos agem com excessivo rigor ao avaliar um doente. Eles são competentes, mas demasiadamente rigorosos. (...) Tenho um paciente que tem dezesseis tendinites (...) e duas rupturas parciais de tendões no braço direito, que não foi aprovado pelo perito. È um absurdo. Alguém precisa fazer alguma coisa. (Carta publicada na pg. 2 do "Correio Popular" de 04/10/09)

INSS

INSS

domingo, 1 de novembro de 2009

Antonio Jofre de Vasconcelos: referências

Quem estiver procurando referências de "Antonio Jofre de Vasconcelos" em sites de busca na internet, como o google, deve também procurar referências de "Antonio Jofre Vasconcelos" (sem o "de") onde encontrará importante resultado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Importância do hospedeiro-maternidade na vindoura epidemia de febre maculosa

A febre maculosa é uma doença silvestre, uma infecção que só ocorre nas florestas. É causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, que vive dentro do carrapato estrela (Amblyomma cajennense). Ela é transmitida pelo carrapato. É muito rara, mas tem altíssima mortalidade: 70 %. No ano de 2003, inesperadamente, surgiu um foco desta doença, no Parque da Lagoa do Taquaral, onde existem capivaras, dentro da cidade de Campinas, SP, pela primeira vez, na história. Estava nascendo a febre maculosa urbana, uma nova modalidade epidemiológica desta doença, cujo estudo nos levou a novas e importantes conclusões. O carrapato pode viver, parasitando milhares de espécies de animais, que são os seus hospedeiros secundários (intermediários). Para entender melhor este fato, poderíamos chamar estes animais de "hospedeiros-hotel". Porém, o carrapato se reproduz apenas em seus tres hospedeiros primários (definitivos) : antas, cavalos e capivaras. Poderíamos chamar estes tres animais de "hospedeiros-maternidade". Antas, não existem na região. Cavalos, dentro da cidade de Campinas, são raros e recebem razoáveis cuidados e tratamentos contra parasitas, tendo poucos carrapatos. Sobra, portanto, a capivara, como o único hospedeiro, onde o carrapato se reproduz (e se multiplica), sendo a origem da febre maculosa urbana, que, por isso, recebeu o nome de "doença das capivaras". Este animal é o único hospedeiro-maternidade para os carrapatos, dentro das cidades, da região de Campinas. Sem as capivaras, todos os carrapatos morrem, expontâneamente, dentro de um ano, sem deixarem filhotes, e desaparece a febre maculosa urbana. Na região, a cidade que não tiver capivaras dentro dela, nunca terá febre maculosa urbana. Mais tarde, surgiram outros focos desta doença, dentro da cidade de Campinas e também dentro de dezenas de cidades vizinhas. Isso tudo aconteceu, porque, em 1988, foi proibida a caça de capivaras, no Brasil. Depois disso, a população destes animais está crescendo muito, em progressão geométrica. Cresceu tanto que, hoje, em 2009, elas estão invadindo algumas cidades. Sabendo a importância que a capivara tem para a febre maculosa, já podemos calcular o risco que esta situação provoca. Por outro lado, se sabe que, o número de carrapatos de um local, aumenta, exponencialmente, de acordo com o número de capivaras, do lugar. Mais carrapatos, causarão mais febre maculosa. Por isso, é possível prever uma epidemia desta doença, dentro de algum tempo, no Estado de São Paulo. No resto do País, a situação é, mais ou menos, semelhante. Por isso, a epidemia deverá se alastar, lentamente, pelo Brasil Inteiro. Para evitar esta vindoura epidemia, é preciso retirar todas as capivaras de dentro das cidades e, também, é preciso liberar a caça destes animais. Saiba mais, na internet, em "doença das capivaras", "epidemia de febre maculosa", "febre maculosa urbana", "antonio jofre de vasconcelos" e em http://antoniojofredevasconcelos.blogspot.com .

Antonio Jofre de Vasconcelos, médico do trabalho, ex-professor de epidemiologia da Unicamp. Rua Angatuba, 65, Campinas, SP, CEP 13 077 062 , fone (19) 32-51-90-62.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Correção no artigo " epidemia de febre maculosa ameaça o Brasil".

O artigo " epidemia de febre maculosa ameaça o Brasil " foi publicado (postado) com um êrro de digitação. O nome científico correto do carrapato estrela é Amblyomma cajennense, e não Amblyomma cajjenense. Saibam mais em "doença das capivaras" , "fere maculosa urbana", "antonio jofre de vasconcelos" e http://antoniojofredevasconcelos.blogspot.com

domingo, 6 de setembro de 2009

Epídemia de febre maculosa ameaça o Brasil

A febre maculosa é uma doença silvestre, uma infecção que ocorre nas florestas. É causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, que vive dentro do carrapato estrela (Amblyomma cajjenense). Ela é transmitida pelo carrapato. É muito rara, mas tem altíssima mortalidade: 70 %. No ano de 2003, inesperadamente, apareceu um foco desta doença, no Parque da Lagoa do Taquaral, onde existem capivaras, dentro da cidade de Campinas, SP, pela primeira vez, na história. Estava surgindo a febre maculosa urbana, uma nova modalidade epidemiológica desta doença, cujo estudo nos levou a novas e importantes conclusões. O carrapato pode viver parasitando milhares de espécies de animais, que são os seus hospedeiros secundário (intermediários). Porém, ele se reproduz apenas em seus tres hospedeiros primários (definitivos): antas, cavalos e capivaras. Antas, não existem na região. Cavalos, dentro da cidade de Campinas, são raros e recebem razoáveis cuidados e tratamentos contra parasitas, tendo poucos carrapatos. Sobra, portanto, a capivara, como a única responsável pela reprodução (e multiplicação) dos carrapatos, sendo a origem da febre maculosa urbana, que, por isso, recebeu o nome de "doença das capivaras". Sem estes animais, todos os carrapatos morrem, expontaneamente, dentro de um ano, sem deixarem filhotes, e, desaparece a febre maculosa urbana. Mais tarde, surgiram outros focos desta doença, dentro da cidade de Campinas, e, também, dentro de dezenas de cidades vizinhas. Isso tudo aconteceu, porque, em 1988, foi proibida a caça de capivaras, no Brasil. Depois disso, a população destes animais está crescendo muito, em progressão geométrica. Cresceu tanto, que, hoje, em 2009, elas estão invadindo algumas cidades. Por outro lado, se sabe que, o número de carrapatos de um lugar, aumenta, exponencialmente, de acordo com o número de capivaras, do local. Mais carrapatos, causarão mais febre maculosa. Por isso, é possível prever uma epidemia desta doença, dentro de algum tempo, no Estado de São Paulo. No resto do país, a situação é, mais ou menos, semelhante. Por isto, a apidemia deverá se alastrar, lentamente, pelo Brasil inteiro. Para evitar esta vindoura epidemia, é preciso retirar todas as capivaras de dentro das cidades, e, também, liberar a caça destes animais. Saiba mais, na internet, em "doença das capivaras" , "febre maculosa urbana" , "antonio jofre de vasconcelos" e http://antoniojofredevasconcelos.blogspot.com.

Antonio Jofre de Vasconcelos, médico do trabalho, ex-professor de epidemiologia da Unicamp, Rua Angatuba, 65, Campinas, SP, CEP 13 077 062, fone (19) 32-51-90-62.

Capivaras

As capivaras estão causando focos de febre maculosa urbana, em Campinas, SP. Esta doença, causada por uma bactéria, é transmitida pelo carrapato estrela, que pode viver parasitando milhares de espécies de animais. Porém, ele se reproduz apenas em antas, cavalos e capivaras. Antas, não existem na região. Cavalos, em Campinas, são raros e recebem razoáveis cuidados e tratamentos contra parasitas, tendo poucos carrapatos. Então, o carrapato se reproduz apenas nas capivaras. È preciso retirar estes animais da cidade. Saiba mais em "doença das capivaras" , "antonio jofre de vasconcelos" e http://antoniojofredevasconcelos.blogspot.com, na internet.

sábado, 5 de setembro de 2009

Capivaras causam febre maculosa em Campinas

A febre maculosa é uma doença silvestre, uma infecção que ocorre nas florestas. È causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, que vive dentro do carrapato estrela (Amblyomma cajennense). Ela é transmitida pelo carrapato. É muito rara, mas tem altíssima mortalidade: 70 %. No ano de 2003, inesperadamente, apareceu um foco desta doença, no Parque da Lagoa do Taquaral, onde existem capivaras, dentro da cidade de Campinas, SP, pela primeira vez, na história. Estava surgindo a febre maculosa urbana, uma nova modalidade epidemiológica desta doença, cujo estudo nos levou a novas e importantes conclusões. O carrapato pode viver parasitando milhares de espécies de animais, que são os seus hospedeiros secundários (intermediários). Porém, ele se reproduz apenas em seus tres hospedeiros primários (definitivos): antas, cavalos e capivaras. Antas, não existem na região. Cavalos, dentro da cidade de Campinas, são raros e recebem razoáveis cuidados e tratamentos contra parasitas, tendo poucos carrapatos. Sobra, portanto, a capivara, como a única responsável pela reprodução (e multiplicação) dos carrapatos, sendo a causa da febre maculosa urbana, que, por isso, recebeu o nome de "doença das capivaras". Sem estes animais , todos os carrapatos morrem, expontaneamente, dentro de um ano, sem deixarem filhotes, e, desaparece a febre maculosa urbana. Mais tarde, surgiram outros focos desta doença, dentro da cidade de Campinas. Para erradicar a febre maculosa urbana, é preciso retirar todas as capivaras de dentro da cidade. Saiba mais, em "doença das capivaras", na internet.

Antonio Jofre de Vasconcelos, médico do trabalho, ex-professor de epidemiologia da Unicamp.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A vindoura epidemia de "doença das capivaras" no Brasil

(Redação aperfeiçoada em 04/09/09)

A febre maculosa é uma doença silvestre, uma infecção que ocorre nas florestas. È causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, que vive dentro do carrapato estrela (Amblyomma cajennense). Ela é transmitida pelo carrapato. È muito rara, mas tem altíssima mortalidade: 70 %. No ano de 2003, inesperadamente, apareceu um foco desta doença, no Parque da Lagoa do Taquaral, onde existem capivaras, dentro da cidade de Campinas, SP, pela primeira vez, na história. Estava surgindo a febre maculosa urbana, uma nova modalidade epidemiológica desta doença, cujo estudo nos levou a novas e importantes conclusões. O carrapato pode viver parasitando milhares de espécies de animais, que são os seus hospedeiros secundários (intermediários). Porém, ele se reproduz apenas em seus tres hospedeiros primários (definitivos) : antas, cavalos e capivaras. Antas, não existem na região. Cavalos, dentro da cidade de Campinas, são raros e recebem razoáveis cuidados e tratamentos contra parasitas, tendo poucos carrapatos. Sobra, portanto, a capivara como a única responsável pela reprodução (e multiplicação) dos carrapatos, sendo a origem da febre maculosa urbana, que, por isso, recebeu o nome de "doença das capivaras". Sem estes animais, todos os carrapatos morrem, expontaneamente, dentro de um ano, sem deixarem filhotes, e, desaparece a febre maculosa urbana. Mais tarde, surgiram outros focos desta doença, dentro da cidade de Campinas, e, também, dentro de dezenas de cidades vizinhas. Isso tudo aconteceu, porque, em 1988, foi proibida a caça de capivaras, no Brasil. Depois disso, a população destes animais está crescendo muito, em progressão geométrica. Cresceu tanto que, hoje, em 2009, elas estão invadindo algumas cidades. Por outro lado, se sabe que o número de carrapatos, de um lugar, aumenta, exponencialmente, de acordo com o número de capivaras do local. Mais carrapatos causarão mais febre maculosa. Por isto é possível prever uma epidemia de "doença das capivaras", dentro de algum tempo, no Estado de São Paulo. No resto do país, a situação é, mais ou menos, semelhante. Por isto, a epidemia deverá se alastrar, lentamente, pelo Brasil inteiro. Para evitar esta vindoura epidemia, é preciso retirar as capivaras de dentro das cidades e, também, liberar a caça destes animais. Saiba mais, procurando "Antonio Jofre de Vasconcelos", "febre maculosa urbana" e "doença das capivaras" na internet.

Antonio Jofre de Vasconcelos, médico do trabalho, ex-professor de epidemiologia da Unicamp, Rua Angatuba, 65, Campinas, SP, CEP 13 077 062, fone (19) 32-51-90-62.

sábado, 22 de agosto de 2009

Ensaio: doença das capivaras no Estado de São Paulo

Carta ao editor

O mundo está mudando. Algumas doenças estão desaparecendo. Outras, emergentes, estão surgindo ou invadindo novos territórios, sob formas diferentes. Não podemos permitir que isto aconteça. Na cidade de Campinas (SP), no bairro do Taquaral, recentemente, aconteceu um fato muito importante : uma nova doença surgiu, foi combatida e desapareceu.

Em agosto de 2003, no Parque da Lagoa do Taquaral, uma criança contraiu febre maculosa, doença transmissível, muito perigosa, que pode matar até 70 % dos doentes. Ela é muito mais ràpida do que a aids, pois causa a morte em menos de 30 dias. Esta infecção é uma zoonose silvestre, ou seja, é uma doença de animais que vivem nas florestas, e que, às vezes, é transmitida a uma pessoa que entra nas matas, para caçar ou pescar. Aquela foi a primeira vez, na história, que um ser humano contraiu a moléstia dentro da cidade de Campinas. Surgiu , assim, uma nova modalidade epidemiológica: a febre maculosa urbana. Se a presença desta doença, na área rural próxima, já era uma absurdo, permitir a existência de um foco infeccioso, dentro de uma cidade civilizada, como Campinas, era absolutamente inaceitável.

Os epidemiologistas da Prefeitura fizeram um excelente estudo no local e descobriram, com microscópios, a bactéria causadora da febre maculosa (Rickettsia rickettsii) no interior dos carrapatos estrela ( Amblyomma cajennense) e também no sangue das capivaras (Hydrochoerus hydrochoeris) que viviam na lagoa. Como se sabe, a riquétsia pode penetrar e viver no sangue deste animais, sem que eles fiquem doentes. A capivara (hidroquero) se torna um portador são e vive até dez anos, carregando a bactéria e espalhando a doença. Assim, ela serve de reservatório natural e de fonte de infecção, hospedando, armazenando, multiplicando, perpetuando e transmitindo a febre maculosa.

Os hidroqueros hospedam, também, os carrapatos, que se acumulam, aos milhôes, em suas peles. Eles são parasitas, sugam o sangue das capivaras, e contraem as bactérias. O amblioma também hospeda a bactéria , sem ficar doente. Eventualmente, um carrapato transmite o micróbio para outro, na relação sexual. As fêmeas transmitem a bactéria para alguns de seus filhotes, antes do nascimento. Às vezes, um amblioma se solta da capivara e morde uma pessoa, transmitindo a doença. Outras vezes, um carrapato, contendo a riquétsia, se agarra a uma ave, ou a uma passarinho, e é transportada para longas distâncias, até para outras cidades, levando a febre maculosa. Por isso, um foco desta infecção, não tem fronteiras. No novo local, o amblioma pode morder uma pessoa, provocando a doença. Ou pode morder outra capivara, originado um novo foco infeccioso. Por isso, um foco de febre maculosa é muito complexo, e, extremamente perigoso. Como se vê, o hidroquero fornece abrigo e alimento para a bactéria e também, para o carrapato, sendo o responsável, indireto, duplo, pela febre maculosa.

Em setembro de 2003, as autoridades sanitárias começaram a combater os ambliomas do Parque da Lagoa do Taquaral. Mas, a partir do dia 10 de novembro, daquele ano, os moradores do bairro começaram a pedir, em reuniões e em artigos públicados pelos jornais, que os epidemiologistas tomassem uma medida mais eficaz, e, retirassem todas as capivaras que viviam na lagoa, para erradicar completamente a doença. Como médico e morador do bairro, eu participei ativamente desta campanha. Naquela época, não sabia que isso nunca tinha sido feito antes, em lugar nenhum. Era um método novo. Porém, o problema logo se tornou mais político do que científico. O Ibama, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, órgão público federal, que tem poder total sobre as capivaras, não queria autorizar a retirada completa daqueles animais. Ele queria que fosse feito o "manejo", que consiste em remover o excesso populacional, ou seja, retirar apenas parte das capivaras da lagoa. Ora, isto era um tremendo absurdo. Estes animais são roedores, como os coelhos, e se reproduzem muito rapidamente: uma fêmea pode ter até 10 filhotes por ano.

Retirar parte das capivaras seria o mesmo que apagar parte de um incêndio: não adiantaria nada. Logo a população aumentaria novamente. Além disso, sabe-se que, basta apenas um destes animais para dar origem à febre maculosa. O Ibama alegava que não autorizava a remoção de todas as capivaras, porque estava defendendo o equilíbrio ecológico. Mas aqueles animais não eram nativos do local. Os hidroqueros tinham sido colocados, na lagoa, como ornamento, em 1996. Na verdade, defender o equilíbrio ecológico, seria devolvê-los às matas. Capivara é animal silvestre, e o lugar delas é na floresta e não dentro da cidade. Ninguém conseguia entender porque o Ibama teimava tanto em defender o tal " manejo " que continuaria mantendo em risco a saúde a população de Campinas.

Finalmente, no dia 10 de janeiro de 2004, o Ibama autorizou a retirada total e ela se iniciou. No dia 7 de outubro, a Prefeitura completou a retirada de todas as 112 capivaras da lagoa. Em consequência disto, os carrapatos sumiram e a doença desapareceu completamente do local. Foi um sucesso imenso: pela primeira vez, na história, um foco de febre maculosa tinha sido totalmente erradicado, por este novo método.

Antes deste acontecimento, o combate à doença consistia em tentar, sem sucesso, eliminar ou evitar o carrapato. È como se estivessem atirando no alvo errado. Há quem chame a infecção de "febre dos carrapatos". Porém, parece que ficaria melhor mudar o apelido. O amblioma já é uma consequência da existência de capivaras. Portanto, a causa inicial da febre maculosa urbana, não é o carrapato, e sim o hidroquero. Comunicamos esse fato à Associação Paulista de Medicina, em um relatório, no qual foi proposta a adoção do nome "doença das capivaras" para os casos de febre maculosa urbana originadas por aqueles animais, em apresentação no dia 8 de outubro de 2004.

Quatro motivos justificam esse novo nome. Em primeiro lugar, clinicamente, a febre maculosa urbana é mais grave que a silvestre, porque ataca mais as crianças, indefesas contra o carrapato e pouco resistentes contra as infecções. Em segundo lugar, ela é mais perigosa porque, nas cidades, a febre maculosa pode contaminar um número maior de pessoas e provocar epidemias.

O terceiro motivo é o seguinte: existem dois tipos bem diferentes de hospedeiros para os carrapatos: o primário ("completo") e o secundário ("incompleto"). O primário é completo, efetivo, perfeito, permanente, prioritário, importante, preferido, predileto, preferencial. São apenas tres: a capivara, os eqüinos (cavalo, jumento, burro e mula) e a anta (Tapirus terrestris). Quando os ambliomas chegam a um novo local, eles colonizam, inicialmente, os primários. Nesses animais eles habitam, sobrevivem e se reproduzem aos milhões. Os primários servem de perpetuadores, multiplicadores, e distribuidores de carrapatos. È como se fossem uma fonte, uma mina, um exportador de ambliomas. Uma população de carrapatos não consegue se estabelecer nem sobreviver em um local sem a presença de ao menos um hospedeiro primário. Em qualquer área, se forem retirados todos os hospedeiros primários, os ambliomas desaparecem, depois de algum tempo. Entre os tres primários, qualitativamente, a capivara é o melhor hospedeiro para o carrapato, porque é anfíbia, prolífica, gregária, silvestre e arisca. Além disso ela possui pêlos longos (9 cm de comprimento), grossos (o,2 mm de diâmetro), duros (como espinhos) escassos e esparsos, que formam uma camada que cobre, esconde e protege os carrapatos. Mais tarde, depois que a população de ambliomas cresce no local, eles começam a passar para os hospedeiros secundários. Esses são hospedeiros incompletos, suplentes, imperfeitos, irrelevantes, precários, provisórios, temporários. Entretanto, exercem importante papel como transportadores de carrapatos e podem dar origem, ocasionalmente, a alguns casos de febre maculosa. Mas não originam populações duradouras de ambliomas, e, por isso, não causam focos permanentes dessa doença. Exceto a capivara, os eqüinos e a anta, todos os outros hospedeiros que existem, para os carrapatos, são secundários. São milhares de espécies de animais. Todos os mamíferos, todas as aves, e até alguns animais de sangue frio, servem de hospedeiros secundários para os carrapatos: rato, morcego, esquilo, gambá, tatu, coelho, lebre, gato, cutia, quati, veado, cão, tamanduá, cabra, carneiro, homem, porco, boi, aves, passarinhos, jabutis, cobras etc. Reparem que o boi é secundário. Sabe-se que dentro das cidades da região de Campinas, não existem antas. E que os raríssimos cavalos existentes são muito bem cuidados: são lavados, escovados, raspados e recebem aplicação de carrapaticidas ( tópicos e injetáveis) periódicamente. Praticamente, eles não tem carrapatos. Além disso, o número de eqüinos dentro das cidades da região está diminuindo a cada ano. Portanto, a capivara é o único (repito: o único) animal capaz de dar origem a focos permanentes de febre maculosa urbana,na região.

Em quatro lugar porque o nome " doença das capivaras" deixará bem claro que o verdadeiro responsável pela febre maculosa urbana é o hidroquero, e não o carrapato, e que, o melhor método para combater essa doença é retirar estes animais de dentro das cidades e não tentar eliminar o amblioma. Será um alerta permanente contra o perigo da existência de capivaras na área urbana. Outra forma de combater essa nova doença é divulgá-la bastante, porque no dia em que ela se tornar famosa, famigerada, ela deixará de existir. Portanto, a comunicação é uma poderosa arma contra esta infecção.

Hoje se sabe que o número de casos de " doença das capivaras" está aumentando muito na região de Campinas, e que ela já matou 20 pessoas ( oito em Valinhos, sete em Piracicaba, duas em Vinhedo, duas em Americana e uma em Louveira). Agora, Campinas precisa também retirar esses animais de outros quatro parque públicos, existentes na cidade: o Lago do Café, no Taquaral, o Parque Yitzhak Rabin, na Vila Madalena, o Parque Hermógenes de Freitas Leitão Filho, em Barão Geraldo, (situado a 100 metros da Universidade Estadual, a Unicamp) e do Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, no Jardim Santa Marcelina. Ainda não surgiu febre maculosa nestes locais, mas ela pode surgir a qualquer momento. Retirar as capivaras agora significará obedecer ao objetivo máximo da medicina: a prevenção, ou seja, evitar que as doenças apareçam. Porém, o Ibama está novamente defendendo o manejo destes animais. E, mais uma vez, em defesa da saúde da população, precisamos insistir que é preciso retirar todas ( repito: todas) as capivaras da cidade. Afinal, Campinas é, ou não é, uma cidade civilizada ?

È preciso analisar o problema também, com uma visão mais ampla, pesquisando sua origem, iniciando a partir da geografia. No mundo todo, a febre maculosa é uma doença que só existe nas tres américas. Na América do Norte, a doença é famosa no Canadá, nos Estados Unidos e no México , com o nome de " febre maculosa das montanhas rochosas", ocorrendo sob a forma de casos esporádicos, originados por pequenos animais, como ratos, coelhos esquilos e cães, exclusivamente fora das cidades. Na América Central, a febre existe no Panamá, e, na América do Sul ela é encontrada na Colombia e no Brasil. Na América do Norte, não existem capivaras. Existem hidroqueros no Panamá, Colômbia, Brasil e outros países. Porém, é só no Brasil que esta doença está crescendo, assustadoramente, porque a população de capivaras está aumentando demais nos últimos anos, devido a uma mudança na legislação, descrita adiante. Os hidroqueros silvestres tem sua população limitada por predadores naturais, como onças, sucuris, jacarés e piranhas. Porém, isto não ocorre na área rural e urbana. Até 1988, nas regiões urbanas e rurais próximas às cidades, haviam poucas capivaras, porque elas eram caçadas pelo homem, por causa de sua carne saborosa. Aliás, o nome científico da capivara, "hydrochoerus", significa, em grego "porco da água".

Em 1988, por motivos políticos, o Brasil mudou a sua Constituição Federal. Criou-se uma nova legislação, muito protetora para a natureza, a flora e a fauna silvestre, inclusive a capivara. Proibiu-se a caça de capivaras, em algumas temporadas do ano, em todo o país. Criou-se o Ibama, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, para administrar e proteger os animais das florestas. Entre todas a regiões do país, no Estado de São Paulo, o problema assumiu maior gravidade, devido a quatro motivos. Primeiro, porque São Paulo criou a sua Constituição Estadual e as leis orgânicas de cada municipio, trazendo proteção mais rigorosa para fauna silvestre. Proibiu-se completamente a caça de capivaras em qualquer temporada do ano. Hoje, matar uma pessoa, pode ser crime afiançável, enquanto matar um hidroquero é crime ambiental, inafiançável, e leva à cadeia mesmo, por um período de 4 a l6 meses (artigo 32 da lei Federal número 9.605/98). Até parece que a lei protege mais os animais do que o ser humano. Ela se tornou "intocável", semelhante à " vaca sagrada" da India. Além disso, as capivaras não podem nem ser removidas de um local, sem a autorização do Ibama. Em segundo lugar, porque São Paulo é o Estado mais desenvolvido do país, e, por isso, tem uma fiscalização mais efetiva contra caça ilegal. Em terceiro lugar porque é o Estado que tem o maior número de cidades do país. Assim, é lógico que que tem a maior soma de áreas rurais próximas às cidades. Cessando a caça nessas regiões, o número de hidroqueros aumentosu muito.

Em quarto lugar, houve o surgimento da capivara urbana. Elas começaram a migrar, expontaneamente, das florestas e das regiões rurais, para dentro das cidades, porque não foram mais atacadas pelos caçadores humanos, depois de 1988. Outro fator é que surgiu, também, uma mudança ecológica. Dentro e próximo das cidades, as matas ciliares, que cobriam as margens dos rios, foram derrubadas. Por isso, este terreno se tornou mais ensolarado, o que provocou um maior crescimento do capim, que é o alimento preferido dos hidroqueros. Aliás, em tupi-guarani, capivara significa "comedor de capim" . Além disso, dentro das cidades, elas ficaram livres de seus predadores naturais. Por todos estes motivos, as capivaras começaram a invadir as cidades. Dentro do Estado de São Paulo, elas estão aumentando em progressão geométrica, dentro dos bairros, e se tornaram uma perigosa praga urbana.

Tivemos também alguns fatos artificiais, criados pelo homem. Em 1989, aproximadamente, na cidade de Piracicaba, situada a 70 km ao noroeste de Campinas, a Esalq, Escola Superior de Agricultura "Luis de Queiroz", colocou capivaras em uma lagoa, no seu campus, dentro da cidade, para iniciar uma criação experimental, com finalidades econômicas. E, a Prefeitura da cidade de Campinas, em 1996, colocou os hidroqueros nas lagoas de cinco parques públicos, visando ornamentar os locais. A febre maculosa surgiu na região em 1985, na cidade de Pedreira, situada a 30 km ao nordeste de Campinas, e se alastrou ao longo dos rios Jaguari, Atibaia, Camanducaia e Piracicaba, levada pelas capivaras fluviais, causando vítimas nas áreas silvestres e rurais. Dentro da cidade de Piracicaba, no ano de 2000, aproximadamente, tivemos o surgimento do primeiro foco infeccioso permanente de febre maculosa urbana do mundo, na lagoa da Esalq. Casos desta doença começaram a aparecer e, até 2005, ela já causou sete mortes em meio urbano. A Esalq se preocupou e está estudando o problema, mas ainda não encontrou a solução. Há 800 hidroqueros dentro da cidade. Parte da população está pedindo a sua retirada, mas o Ibama não concede a autorização.

Dentro da cidade de Campinas, no Parque da Lagoa do Taquaral, em 2003, surgiu o segundo foco infeccioso permanente de febre maculosa urbana do mundo. O povo do bairro começou a chamá-la de "doença das capivaras". Triste é estudar a ecologia e a biocenose da doença e concluir que os focos existentes dentro das cidade são antropúrgicos, ou seja, construídos pela ação do homem na natureza. Pior ainda é ver que o Ibama não autoriza a solução do problema. Ninguém entende porque. Em Campinas, ocorreu uma excessão: o povo do Bairro do Taquaral pediu, teimou, insistiu e conseguiu a retirada dos hidroqueros.

Para retirar as capivarasa da cidade, o ideal seria capturá-las na área urbana e libertá-las em algum lugar, escolhido pelo Ibama, nos pampas, ao sul do paralelo 26, nos Estados de Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, porque, nesta região, o clima frio e a vegetação rasteira impedem que o carrapato se estabeleça, e a doença não aparece. O amblioma é um trioxeno, ou seja, ele precisa descer do hospedeiro e viver no solo,durante certo tempo, tres vezes, para completar os quatro estágios de sua vida: ovo, larva ("micuim"), ninfa ("vermelhinho") e adulto (carrapato estrela). No chão, ele precisa viver embaixo de arbustos que proporcionam um microclima fresco e úmido, escondido dos raios solares. Na vegetação rasteira não há arbustos e o carrapato geralmente morre. Esta mudança deverá ser feita no inverno, porque no verão surgem mais ambliomas e a doença. Outra solução é levar as capivaras para um criodouro comercial, existente na cidade de Miracatu, situada a 150 km ao sudoeste da capital do Estado, perto de Registro, onde elas são aproveitadas, como matrizes. Isto foi feito com as capivaras do Taquaral.

Outros focos da doença das capivaras surgiram nas cidades de Americana,Valinhos, Vinhedo e Louveira. O Ibama concedeu autorização para a retirada total de capivaras da Lagoa do Taquaral, em Campinas, mas não permite que isso ocorra, nas outras cidades. Ninguém entende porque. A população de capivaras está crescendo muito, dentro das urbes da região. Logo a doença deverá atingir Jundiaí e Atibaia. Se alguma medida enérgica não for tomada, provavelmente, logo teremos o o surgimento de uma devastadora epidemia de febre maculosa urbana na região. Como a doença também está aumentando em velocidade alarmante, na área rural, talvez a melhor solução seja liberar completamente a caça de capivaras, no Estado de São Paulo, o mais rapidamente possível.

Antonio Jofre de Vasconcelos, Médico Clínico Geral, mèdico do trabalho e ex-professor de epidemiologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Informações

Local onde foi produzido o manuscrito: na cidade de Campinas, no Bairro do Taquaral.
Endereço para correspondência: Rua Angatuba, 65--Bairro Taquaral--Campinas (SP) CEP 13-077-062 Tel (11 19)32-51-90-62 E-mail: jofrevasconcelos@terra.com.br

Fontes de fomentos: nenhuma.
Conflito de interesses: nenhum.

Data de entrada: 3/10/2005
Data da última modificação: 14/12/2005
Data da aprovação : 31/5/2006

Resumo didático

1---Surgiu uma nova forma epidemiológica da febre maculosa : a urbana.
2---Capivara é animal silvestre, e o lugar dela é na floresta e não dentro da cidade.
3---Foi um sucesso imenso: pela primeira vez na história, um foco de febre maculosa foi totalmente erradicado por um novo método.
4---A capivara é o único animal capaz de dar origens a focos permanentes de febre maculosa urbana na região de Campinas.
5---A " doença das capivaras" ja matou 20 pessoas (oito em Valinhos, sete em Piracicaba, dois em Vinhedo, dois em Americana e uma em Louveira).
6---Se alguma medida enérgica não for tomada, provavelmente logo teremos o surgimento de uma devastadora epidemia de febre maculosa urbana na região.

Esta redação foi publicada em "Diagnóstico e Tratamento", revista científica da Associação Paulista de Medicina, nas páginas 190 até 193, no volume 11, edição 3, jul/ago/set 2006. Foi indexada na LILACS e na BIREME.

Nota

Nota
O artigo " A vindoura epidemia de "doença das capivaras" no Brasil " foi publicado no portal da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas, no dia 08/08/09. Acesse www.smcc.org.br , clique em "associados", em "artigos", em "artigos diversos", em "Antonio Jofre de Vasconcelos".

domingo, 16 de agosto de 2009

Novo endereço

Novo endereço do autor: Rua Angatuba, 65, bairro Taquaral, Campinas, SP, CEP 13 077 062.

sábado, 8 de agosto de 2009

A vindoura epidemia de "doença das capivaras" no Brasil

A febre maculosa é uma doença silvestre, uma infecção que ocorre nas florestas. È causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, que vive dentro do carrapato estrela (Amblyomma cajennense). Ela é transmitida pelo carrapato. È muito rara, mas tem altíssima mortalidade: 70%. No ano de 2003, inesperadamente, apareceu um foco desta doença, no Parque da Lagoa do Taquaral, dentro da cidade de Campinas, SP, pela primeira vez na história. Estava surgindo a febre maculosa urbana, uma nova modalidade epidemiológica desta doença, cujo estudo nos levou a novas e importantes conclusões. O carrapato pode viver parasitando milhares de espécies de animais, que são os seus hospedeiros secundários (intermediários). Porém, ele se reproduz apenas em seus tres hospedeiros primários (definitivos) : antas, cavalos e capivaras. Antas, não existem na região. Cavalos, dentro da cidade de Campinas, são raros e recebem razoáveis cuidados e tratamentos contra parasitas, tendo poucos carrapatos. Sobra, portanto, a capivara como a única responsável pela reprodução (e multiplicação) dos carrapatos, sendo a origem da febre maculosa urbana, que, por isso, recebeu o nome de "doença das capivaras". Sem estes animais, todos os carrapatos morrem, expontaneamente, dentro de um ano, sem deixarem filhotes, e desaparece a febre maculosa urbana. Mais tarde, surgiram outros focos desta doença, dentro da cidade de Campinas e também dentro de dezenas de cidade vizinhas. Isso tudo aconteceu, porque, em 1988, foi proibida a caça de capivaras, no Brasil. Depois disso, a população destes animais está crescendo muito, em progressão geométrica. Cresceu tanto que, hoje, em 2009, elas estão invadindo algumas cidades. Por outro lado, se sabe que, o número de carrapatos, de um lugar, aumenta, exponencialmente, de acordo com o número de capivaras do local. Por isso, é possível prever uma epidemia de "doença das capivaras", dentro de algum tempo, no Estado de São Paulo. Mais tarde, esta epidemia vai se alastrar, lentamente, pelo Brasil inteiro. Para evitar esta vindoura epidemia, é preciso retirar as capivaras de dentro das cidades e também liberar a caça destes animais. Saiba mais, procurando "antonio jofre de vasconcelos", "febre maculosa urbana" e "doença das capivaras" na internet.

Antonio Jofre de Vasconcelos, médico do trabalho, ex-professor de epidemiologia da Unicamp, Rua Angatuba, 65, CEP 13 090 380, fone (19) 32-51-90-62 , jofrevasconcelos@terra.com.br

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