domingo, 11 de abril de 2010

Tristeza de Mersina. Antonio Jofre de Vasconcelos.

Tristeza de Mersina

Entre a urgência e o pasmo

Wanderley Codo

1985, um poema de uma mulher trabalhadora (ex-trabalhadora ?)

Um dia na minha vida

Aqui estou---perdida aos 33.
Sonhando em ter aonde ir, o que fazer
posta de lado pelos meus pares---desamparada
enquanto enfrento meus moinhos de vento

Muito o que expressar---por onde começo?

Começo com a dor---tão abrangente que não sei como aliviá-la
Sentar, levantar, fazer algo para que ela se vá
Às vezes me sinto mutilada
Sem os membros, sendo nada

Tome uma pílula---mate a dor

Minha independência, tão valiosa, tão querida, escapou
Nada para mim além de cuidados
Dias se arrastando para sempre, sempre sem fim
Cuidado ao esticar os braços
Cuidado ao colocar as roupas
Cuidado ao abrir uma torneira

O cuidado se infiltra mais e mais---infinito em meus pensamentos

Usando tipóias, estragando a minha aparência
"O que houve, abriu o pulso?"
Explicações? Ninguém quer saber.

Que inveja, que ciúmes de quem consegue comer sem dor
Dirigir, pentear os cabelos da minha filha
Fazer amor sem dor

(Mersina, uma vítima de LER)

Poesia "Tristeza de Mersina", publicada na página 7 do livro "LER---Lesões por Esforços Repetitivos", de Wanderley Codo, quarta edição, 1998, Editora Vozes, Petrópolis.

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